A sociedade açoriana, e alguma parte da continental, vive com uma ideia mitológica sobre o pensamento centralista de Cavaco Silva para com as regiões autónomas na matéria da revisão do Estatuto dos Açores de 2009, cujo então Presidente da República interrompeu as próprias férias de verão (em 2008) para falar ao país desse Estatuto. Essa ideia perpassa na sociedade com essa argumentação o que traduz um mito na justa medida em que esse acontecimento representa o oposto do que se diz. Na verdade, o comportamento político de Cavaco Silva nessa matéria e nesse atribulado ano de 2008, na 3ª revisão do Estatuto Político dos Açores em sequência da revisão da Constituição de 2004, constitui um exemplo de excelência presidencial – porque estava em causa, não uma lei, mas a própria Constituição. Ou seja, vamos demonstrar que a ideia de que Cavaco Silva, na parte relativa à Estatuto dos Açores, foi centralista com essa atuação é desacertada e que se traduziu afinal num ato político de respeito pela Constituição e pela própria natureza do Estado Português deste século em que cabe ao Presidente da República precisamente a garantia da constitucionalidade governativa.